segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

A Velha Casa: I - Uma Gota de Sangue by José Régio

A Velha Casa: I - Uma Gota de SangueA Velha Casa: I - Uma Gota de Sangue by José Régio
My rating: 4 of 5 stars

Lèlito, um rapaz de 17 anos, sensível, inteligente, tímido, é internado pelo pai num colégio do Porto para não se perder como o seu irmão João. Incapaz de se integrar, afasta-se dos colegas e arrasta-se pelos cantos do recreio, com um livro debaixo do braço, suspirando por regressar ao seio da família, em Azurara, aos cuidados da mãe, da madrinha Libânia e da cozinheira Piedade. Os seus modos suaves e distantes provocam comentários dos perfeitos e dos outros rapazes e, uma tarde no recreio, por detrás de uma grande tília, Pedro Sarapintado chama-lhe "menina", acusam-no de gostar de "ler romances" e acabam por despi-lo para lhe fazerem uma "vistoria". Indignado e revoltado, Lèlito isola-se mais e, quando o Adélio, um matulão mais forte, lhe diz que simpatiza com ele e lhe propõe escaparem-se antes da missa para fazerem "indecências" nuns caminhos escondidos por detrás do cemitério, Lèlito reage e descobre em si um ímpeto e uma força para se afirmar contra a injustiça e a crueldade.

José Régio, num romance que parece ter algo de autobiográfico, retrata muito bem a homofobia reinante entre os rapazes (mas também tolerada, senão mesmo tacitamente encorajada, por diretores, professores e empregados) dos colégios internos portugueses na segunda metade do século XX. De entre diversos personagens interessantes (o Pedro Sarapintado, o perfeito Bento Adalberto e outros), destaca-se Adélio, por representar uma certa homossexualidade que não era reconhecida como tal à época, antes sendo vista como sinal de virilidade, na tradição da Roma Antiga, a dos "machos" dominantes que seduzem e sodomizam homens ou rapazes submissos/femininos.

A estrutura do romance é bem conseguida, com uma introdução rápida ao tema principal, seguida do seu desenvolvimento progressivo e terminando numa autêntica descida aos infernos dos bairros antigos portuenses, em que o protagonista ganha consciência de si, mas soçobra fisicamente. Os últimos capítulos são excelentes e o livro termina com o regresso ao paraíso e a provável redenção, mas, mais do que isso, só mesmo lendo o volume 2, As Raízes do Futuro...

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