quinta-feira, 25 de maio de 2017

Austerlitz by W.G. Sebald

AusterlitzAusterlitz by W.G. Sebald
My rating: 3 of 5 stars

Há obras que reconhecemos serem fundamentais mas que não nos entusiasmam. Compreendemos (racionalmente) que estamos perante algo inovador ou invulgar, mas (emocionalmente) não nos conseguimos deixar embalar. Acontece-me, por exemplo, com a maior parte da poesia, com grande parte da produção surrealista, com a arte moderna (visitei o novo MAAT recentemente...) ou com quase toda a música clássica minimalista dos últimos 50 anos. E aconteceu-me com "Austerlitz" de W. G. Sebald. A escrita é belíssima, uma conversa entre dois (des)conhecidos, quase como um fluxo de pensamentos, um sonho distante, ou um pesadelo que não queremos recordar e que, dolorosamente, não conseguimos evitar (neste caso, o pesadelo do holocausto nazi). E é também inovadora e desconcertante, porque contada por dois narradores ("disse Vera, disse Austerlitz"), contribuindo assim para aumentar o sentimento de distância e de gravidade. Para mim, que fui formado e formatado na ciência, nos factos, na beleza e no desafio da simplicidade, o estilo que Sebald utilizou em Austerlitz impacienta-me e anestesia-me. O que não significa que não lhe reconheça muito valor e que não recomende vivamente a leitura.

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quinta-feira, 18 de maio de 2017

The Road to Serfdom: Text and Documents by Friedrich A. Hayek

The Road to Serfdom: Text and DocumentsThe Road to Serfdom: Text and Documents by Friedrich A. Hayek
My rating: 4 of 5 stars

A história repete-se, avisa Hayek, neste livro que escreveu na parte final da II Grande Guerra Mundial. Os totalitarismos populistas da primeira metade do século XX resultaram de um descontentamento progressivo com a incapacidade que as democracias demonstraram para gerar os consensos necessários à satisfação das expectativas criadas aos cidadãos. Descontentes com o impasse, os povos europeus deixaram de acreditar nos políticos e na política e aceitaram as propostas irrealistas e xenófobas dos pequenos (depois, grandes!) ditadores que lhes prometiam resolver em três penadas todos os problemas das suas nações. Hitler culpou os judeus e Estaline os capitalistas. Trump culpa os mexicanos, Le Pen os emigrantes e Erdogan a Europa...

E porque falharam as democracias? Porque os partidos não se entendiam entre si? Porque a classe política era corrupta? ou medíocre? Nada disso, diz Hayek. As democracias falharam porque se viram obrigadas a tentar gerar consensos impossíveis.

No início do século XX, à medida que o coletivismo se estendeu a cada vez mais capítulos da vida em sociedade, mais difícil passou a ser obter consensos. Todos estamos de acordo sobre grandes objetivos comuns, como a manutenção da ordem pública e a redução da criminalidade. Mas as nossas opiniões divergem muito quando os temas em debate são mais específicos, como, por exemplo, a localização de um aterro sanitário (nunca perto da minha casa...), o casamento entre homossexuais, a Uber vs os taxistas, os direitos dos animais, etc., etc. Quando são chamados a legislar sobre questões cada vez mais minuciosas, como estas, os políticos não conseguem, obviamente, chegar a acordo, sendo obrigados a beneficiar certos grupos (frequentemente, a maioria ou os grupos de pressão mais organizados) em desfavor de outros, o que acaba por gerar descontentamento contra os políticos, contra a política e contra as instituições da democracia: "só se insultam uns aos outros", "querem é tacho", "não percebem nada", "são todos corruptos"...

O que diz Hayek é que estamos a tentar utilizar a "ferramenta" da democracia para finalidades para as quais ela não é adequada. E ao utilizá-la assim, desvalorizando-a, estamos a abrir espaço para o populismo e para a autocracia, e a pôr em causa um bem (ainda) mais precioso do que a democracia: a liberdade!

É este o "caminho para a servidão" que serve de título ao livro. Foi este o caminho que foi trilhado pela Alemanha, entre guerras mundiais, quando o coletivismo atingiu uma tal proporção que o país se transformou numa enorme burocracia hierárquica, quase militarizada, em que o Estado se confundia com a Nação e todos eram funcionários (a maioria dos alemães não reagiu ao genocídio e às outras atrocidades cometidas durante a II Guerra Mundial... estavam apenas a cumprir ordens!) Foi este o caminho que foi trilhado na União Soviética, apesar de, aí, o coletivismo não ter sido de pendor hierárquico, mas igualitário, embora com resultados igualmente desastrosos.

Para evitar que esta história infeliz se repita, diz Hayek, só temos um caminho a seguir, o caminho que arrancou a Europa ao feudalismo da Idade Média e às monarquias absolutistas que lhe sucederam e aos fundamentalismos religiosos: o caminho da liberdade individual.

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