O íntimo ofício by Z.A. Feitosa
My rating: 3 of 5 stars
Bita, um garoto de Alvinópolis, em Minas Gerais, filho dos donos do Recanto do Chofer, uma estação de serviço/restaurante/hotel, navega pelas águas traiçoeiras da descoberta da sua sexualidade com o irmão, os amigos, um vaqueiro, um motorista, uma quenga e um par de namoradas, com as quais procura esconder-se das críticas e assédio dos habitantes de uma pequena cidade do interior brasileiro das décadas de 1960-70.
A escrita é muito cândida e simples, mas muito realista, quase nos fazendo ver o mundo de Bita pelos seus olhos, deixando que nos identifiquemos com ele e com as suas paixões e medos, e fazendo despertar em nós uma grande ternura pelas desventuras do adolescente. E se são realmente memórias, como a menção da capa afirma, então são também textos que revelam a grande coragem de quem os escreveu!
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quarta-feira, 26 de novembro de 2014
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Comrade Loves of the Samurai by Saikaku Ihara
Comrade Loves of the Samurai by Saikaku Ihara
My rating: 4 of 5 stars
Ihara Saikaku (1642-1693), foi um romancista e poeta japonês, considerado um dos pais do conto e do romance no Japão. Com os seus livros da série "Mundo Flutuante", revolucionou a prosa japonesa, abordando temas populares e quotidianos, por vezes licenciosos e proibidos, numa linguagem simples e coloquial. Escrevia para vender e ganhar dinheiro, mais que para permitir a reflexão do leitor ou para o informar. As suas obras tiveram enorme sucesso comercial durante a sua vida, mas acabaram por ser esquecidas até ao final do século XIX, quando finalmente recomeçaram a despertar o interesse dos estudiosos. No entanto, devido ao seu conteúdo erótico, muitos contos e novelas continuaram censurados pelos governos militares que dominaram o Japão no início do século XX, e só após a II Guerra Mundial foram publicadas as suas Obras Completas. Yukio Mishima declarou uma vez que o seu livro, Confissões de uma Máscara, era a primeira obra importante a abordar o tema da homossexualidade no Japão depois de The Great Mirror of Male Love, de Saikaku.
Comrade Loves of the Samurai é uma seleção de contos de Saikaku que aborda o tema do amor entre samurais, traduzidos para o inglês por E. Powys Mathers, em 1928, a partir da tradução francesa por Ken Sato. São pequenas histórias ternas e cândidas de paixões devastadoras entre samurais, que terminam frequentemente em haraquiri, de acordo com o código de honra dos tradicionais guerreiros japoneses. O amor retratado tem, surpreendentemente, dada a distância geográfica e temporal entre as duas culturas, muitas semelhanças com o amor grego, surgindo frequentemente a figura tutelar do homem mais velho, que ama, aconselha e educa o jovem por cuja beleza se apaixona. Surpreendente é, também, a descoberta de que por detrás da frieza marcial e assassina que nos habituámos a associar aos míticos samurais japoneses existiam, na verdade, relações homossexuais de amor e ternura inesperadas.
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My rating: 4 of 5 stars
Ihara Saikaku (1642-1693), foi um romancista e poeta japonês, considerado um dos pais do conto e do romance no Japão. Com os seus livros da série "Mundo Flutuante", revolucionou a prosa japonesa, abordando temas populares e quotidianos, por vezes licenciosos e proibidos, numa linguagem simples e coloquial. Escrevia para vender e ganhar dinheiro, mais que para permitir a reflexão do leitor ou para o informar. As suas obras tiveram enorme sucesso comercial durante a sua vida, mas acabaram por ser esquecidas até ao final do século XIX, quando finalmente recomeçaram a despertar o interesse dos estudiosos. No entanto, devido ao seu conteúdo erótico, muitos contos e novelas continuaram censurados pelos governos militares que dominaram o Japão no início do século XX, e só após a II Guerra Mundial foram publicadas as suas Obras Completas. Yukio Mishima declarou uma vez que o seu livro, Confissões de uma Máscara, era a primeira obra importante a abordar o tema da homossexualidade no Japão depois de The Great Mirror of Male Love, de Saikaku.
Comrade Loves of the Samurai é uma seleção de contos de Saikaku que aborda o tema do amor entre samurais, traduzidos para o inglês por E. Powys Mathers, em 1928, a partir da tradução francesa por Ken Sato. São pequenas histórias ternas e cândidas de paixões devastadoras entre samurais, que terminam frequentemente em haraquiri, de acordo com o código de honra dos tradicionais guerreiros japoneses. O amor retratado tem, surpreendentemente, dada a distância geográfica e temporal entre as duas culturas, muitas semelhanças com o amor grego, surgindo frequentemente a figura tutelar do homem mais velho, que ama, aconselha e educa o jovem por cuja beleza se apaixona. Surpreendente é, também, a descoberta de que por detrás da frieza marcial e assassina que nos habituámos a associar aos míticos samurais japoneses existiam, na verdade, relações homossexuais de amor e ternura inesperadas.
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Ao amigo que não me salvou a vida by Hervé Guibert
Ao amigo que não me salvou a vida by Hervé Guibert
My rating: 4 of 5 stars
Hervé Guibert, jornalista e escritor francês, descobre-se infetado pelo vírus da SIDA na década de 1980, quando a doença mal havia sido identificada e era inapelavelmente mortal em poucos anos. Procuravam-se, desesperadamente, remédios e vacinas para a curar ou prevenir. Circulavam todo o tipo de rumores sobre infetados, novos medicamentos, formas de infeção, conspirações sobre as origens. O namorado de Guibert, e muitos dos seus amigos franceses e americanos, fazem o teste e descobrem que também estão infetados. O seu amigo e antigo amante Muzil (o famoso filósofo Michel Foucault) acaba por morrer precocemente, vítima do HIV, no meio de grande segredo. Hervé Guibert debate-se com pensamentos contraditórios, abençoa a doença, "uma genial invenção moderna", que lhe põe a morte no horizonte, obrigando-o a valorizar a vida. Mas também a amaldiçoa, e pensa em desistir ou mesmo suicidar-se. E escreve como sente, desordenadamente, sem tempo para explicar o que pensa, misturando tempos e lugares, mas mantendo uma lucidez e uma originalidade de pensamentos inesperados.
Guibert morreu em 1991, vítima de SIDA, aos 36 anos de idade. As últimas palavras do seu livro são: "A voragem do meu livro fecha-se sobre mim. Estou na merda. Até onde queres tu ver-me afundar? Enforca-te Bill! Os meus músculos derreteram. Reencontrei enfim as minhas pernas e os meus braços de criança."
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My rating: 4 of 5 stars
Hervé Guibert, jornalista e escritor francês, descobre-se infetado pelo vírus da SIDA na década de 1980, quando a doença mal havia sido identificada e era inapelavelmente mortal em poucos anos. Procuravam-se, desesperadamente, remédios e vacinas para a curar ou prevenir. Circulavam todo o tipo de rumores sobre infetados, novos medicamentos, formas de infeção, conspirações sobre as origens. O namorado de Guibert, e muitos dos seus amigos franceses e americanos, fazem o teste e descobrem que também estão infetados. O seu amigo e antigo amante Muzil (o famoso filósofo Michel Foucault) acaba por morrer precocemente, vítima do HIV, no meio de grande segredo. Hervé Guibert debate-se com pensamentos contraditórios, abençoa a doença, "uma genial invenção moderna", que lhe põe a morte no horizonte, obrigando-o a valorizar a vida. Mas também a amaldiçoa, e pensa em desistir ou mesmo suicidar-se. E escreve como sente, desordenadamente, sem tempo para explicar o que pensa, misturando tempos e lugares, mas mantendo uma lucidez e uma originalidade de pensamentos inesperados.
Guibert morreu em 1991, vítima de SIDA, aos 36 anos de idade. As últimas palavras do seu livro são: "A voragem do meu livro fecha-se sobre mim. Estou na merda. Até onde queres tu ver-me afundar? Enforca-te Bill! Os meus músculos derreteram. Reencontrei enfim as minhas pernas e os meus braços de criança."
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domingo, 2 de novembro de 2014
Defesa e Condenação da Manice by Ana Hatherly
Defesa e Condenação da Manice by Ana Hatherly
My rating: 4 of 5 stars
Este pequeno livro (quase um folheto) inclui dois textos do início século XVIII sobre a manice (lesbianismo) recolhidos por Ana Hatherly e uma introdução esclarecedora em que a investigadora os apresenta e analisa.
O primeiro texto, de autoria do Visconde de Asseca (provavelmente o terceiro visconde, Diogo Correia de Sá, intitula-se "Defesa da manice em abono das senhoras mulheres contra a murmuração dos homens" . É um texto elegante, invocando a razão e os clássicos como fundamento para a sua defesa. "É a semelhança o primeiro incentivo do amor. Forçosamente, então, há de haver maior amor onde houver maior semelhança."
O segundo texto, de autoria de Frei João Manuel (talvez um monge de Alcobaça), foi escrito como resposta ao primeiro e tem o título "Invectiva da formosura contra o indecoroso abuso da manice em resposta à defesa feminina feita para manifesta ainda que indigna proteção do mesmo delírio" . Tal como o próprio título, este texto é extremamente jocoso e muito divertido ("é pois uma mana, uma mona enfeitada"), apesar de utilizar os mesmos argumentos do primeiro, a razão e os clássicos. "Como pode uma formosura render-se a outra (...) A maior oposição que há é a das formosuras entre si: fazem-se a guerra com exércitos de perfeições e, julgando-se igualmente poderosas, se consideram incontrastáveis."
Provavelmente, dois dos primeiros ensaios em língua portuguesa sobre a homossexualidade.
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Este pequeno livro (quase um folheto) inclui dois textos do início século XVIII sobre a manice (lesbianismo) recolhidos por Ana Hatherly e uma introdução esclarecedora em que a investigadora os apresenta e analisa.
O primeiro texto, de autoria do Visconde de Asseca (provavelmente o terceiro visconde, Diogo Correia de Sá, intitula-se "Defesa da manice em abono das senhoras mulheres contra a murmuração dos homens" . É um texto elegante, invocando a razão e os clássicos como fundamento para a sua defesa. "É a semelhança o primeiro incentivo do amor. Forçosamente, então, há de haver maior amor onde houver maior semelhança."
O segundo texto, de autoria de Frei João Manuel (talvez um monge de Alcobaça), foi escrito como resposta ao primeiro e tem o título "Invectiva da formosura contra o indecoroso abuso da manice em resposta à defesa feminina feita para manifesta ainda que indigna proteção do mesmo delírio" . Tal como o próprio título, este texto é extremamente jocoso e muito divertido ("é pois uma mana, uma mona enfeitada"), apesar de utilizar os mesmos argumentos do primeiro, a razão e os clássicos. "Como pode uma formosura render-se a outra (...) A maior oposição que há é a das formosuras entre si: fazem-se a guerra com exércitos de perfeições e, julgando-se igualmente poderosas, se consideram incontrastáveis."
Provavelmente, dois dos primeiros ensaios em língua portuguesa sobre a homossexualidade.
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Um dia as canas tocarão nos céus? by João Firmino
Um dia as canas tocarão nos céus? by João Firmino
My rating: 2 of 5 stars
António Fernando Cascais, no prefácio (muito bom), sugere a forte componente biográfica desta obra de João Firmino. O próprio autor, não a disfarça, ao denominar o personagem principal de Firmo, e a sua tia Glória, por exemplo, de tia Gi. Estamos, portanto, perante a história de uma vida, contada pelo próprio, que acompanhamos desde os 3 anos, quando o protagonista vive com os pais em Lisboa, até que, já com mais de quarenta anos, regressa a Lisboa de uma viagem pela Europa com o filho, para a qual partiu de coração destroçado pelo fim de uma relação com o seu namorado, Seth. Saber que há um fundo de verdade neste romance, aumenta muito o interesse da leitura, mas a estrutura narrativa e a qualidade da escrita são algo frágeis. De elogiar, sem dúvida, a coragem do autor, ao discutir a sua sexualidade, as suas fragilidades emocionais e as suas dúvidas, que todos têm, mas das quais poucos falam tão abertamente.
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My rating: 2 of 5 stars
António Fernando Cascais, no prefácio (muito bom), sugere a forte componente biográfica desta obra de João Firmino. O próprio autor, não a disfarça, ao denominar o personagem principal de Firmo, e a sua tia Glória, por exemplo, de tia Gi. Estamos, portanto, perante a história de uma vida, contada pelo próprio, que acompanhamos desde os 3 anos, quando o protagonista vive com os pais em Lisboa, até que, já com mais de quarenta anos, regressa a Lisboa de uma viagem pela Europa com o filho, para a qual partiu de coração destroçado pelo fim de uma relação com o seu namorado, Seth. Saber que há um fundo de verdade neste romance, aumenta muito o interesse da leitura, mas a estrutura narrativa e a qualidade da escrita são algo frágeis. De elogiar, sem dúvida, a coragem do autor, ao discutir a sua sexualidade, as suas fragilidades emocionais e as suas dúvidas, que todos têm, mas das quais poucos falam tão abertamente.
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