quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Crónicas de Uma Pequena Ilha by Bill Bryson

Crónicas de Uma Pequena IlhaCrónicas de Uma Pequena Ilha by Bill Bryson
My rating: 4 of 5 stars

Depois de ter vivido durante vinte anos em Inglaterra, Bill Bryson decide regressar com a família aos Estados Unidos, o seu país natal. Mas antes decide fazer uma viagem de sete semanas pela Grã-Bretanha, com o objetivo de visitar todo o país. A viagem é um pouco caótica: se há um comboio que está a partir para uma qualquer cidade, Bryson não resiste a subir, por vezes alterando os seus planos. Desta forma, percorre muitas cidades da Inglaterra, do País de Gales e da Escócia, terminando em John O'Groats, no extremo norte da grande ilha.

Pelo caminho, sucedem-se aventuras e encontros, por vezes divertidos, por vezes assustadores. Por todo o lado, a mesma chuva e frio e cinzento do janeiro britânico, fábricas encerradas, centros de cidades descaracterizados por horríveis edifícios envidraçados de escritórios, as mesmas cadeias de lojas globais. Mas também algumas surpresas, como a catedral de Durham, a transformação de Glasgow, as paisagens rurais bem preservadas de certas zonas. E sempre, o especial sentido de cortesia e humor peculiar dos britânicos.

No final, Bryson descobre (ou recorda-se de) que adora a Grã-Bretanha: "Que lugar assombroso era este - completamente louco, mas adorável até ao mais ínfimo pormenor. Afinal, que outro país se lembraria de arranjar topónimos como Tooting Bec e Farleigh Wallop ou ter um jogo como o críquete que, ao fim de três dias, parece que ainda não começou? Quem é que não acharia estranho, no mínimo, obrigar os seus juízes a usarem cabeleiras e o Lorde Chanceler a sentar-se em cima de uma coisa chamada Woolsack na Câmara dos Lordes, e orgulharem-se de um herói da Marinha cujo último desejo antes de morrer foi ser beijado por um tal Hardy? («Por favor, Hardy, beija-me na boca, profundamente.») Que outra nação no mundo nos poderia dar William Shakespeare, empadas de porco, Christopher Wren, Windsor Great park, a Universidade Aberta, o «Gardner's Question Time» e a bolacha digestiva de chocolate? Nenhuma, é claro. Como nos esquecemos tão facilmente de tudo isto. (...) Este é um país que combateu e ganhou uma guerra nobre, desmantelou um poderoso império de uma forma suave e esclarecida, criou um estado-providência com os olhos no futuro - e depois passou o resto do século a considerar-se um fracasso crónico. O facto é que continua a ser o melhor lugar do mundo para fazer muita coisa - para pôr uma carta no correio, para passear a pé, ver televisão, comprar um livro, beber um copo, visitar um museu, utilizar os serviços bancários, ficar perdido, procurar ajuda, ou ficar parado numa encosta a apreciar a vista. (...) Já o disse antes e repito-o: gosto muito deste país- É difícil dizer por palavras o quanto gosto dele."

Hesitei entre 3 e 4 estrelas: não temos a ideia de um percurso ao ler o livro, perdemo-nos na sucessão de dias e locais, e as descrições são por vezes muito repetitivas (cheguei à cidade, era noite, estava a chover, apanhei uma molha, fui a um pub beber uma cerveja, no centro os edifícios vitorianos foram demolidos para dar lugar a feios edifícios de escritórios, nas ruas comerciais as lojas estão fechadas ou foram substituídas por McDonalds e Marks & Spencer's... etc., etc.) Um editor forte teria, provavelmente, cortado 1/3 das páginas.

Mas Bryson fez-me sorrir muitas vezes e, por vezes, soltar mesmo uma gargalhada! (Em John O'Groats, no extremo norte da ilha, não há habitantes, apenas 2 ou 3 lojas de recordações e 1 ou 2 cafés. Em janeiro, está tudo fechado, exceto uma loja. "Entrei e fiquei admirado ao ver no seu interior três senhoras de meia-idade a trabalharem, o que era um exagero, pois eu devia ser o único turista existente a uma distância de 640 quilómetros. As senhoras tinham um ar muito alegre e saudável e receberam-me calorosamente, com aquele maravilhoso sotaque da região das Highlands - muito bem pronunciado e, todavia, tão suave. Desdobrei algumas camisolas para que elas tivessem algo para fazer depois de eu sair da loja..."). Por isso, merece bem as 4 estrelas!

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terça-feira, 8 de agosto de 2017

Trás-os-Montes, o Nordeste by J. Rentes de Carvalho

Trás-os-Montes, o NordesteTrás-os-Montes, o Nordeste by J. Rentes de Carvalho
My rating: 3 of 5 stars

Um pequeno apanhado de impressões e de opiniões de Rentes de Carvalho sobre Trás-os-Montes (ou a sua parte de Trás-os-Montes), muito bem escritas, do qual se percebe o quão profundamente apaixonado pela terra e pelas suas gentes é o autor.
Tal não o coíbe de lançar uma crítica forte, que recebeu grande eco na comunicação social, sobre o tabu que é a homossexualidade na região. "Entristece constatá-lo, mas se aqui e ali na terra transmontana algo vai melhorando, seja ele a passo de boi, facto é de que há pontos em que a rigidez atávica, o medo, o atraso, antigas noções de honra e a vergonha, se conluiam para tornar desumana a vida daqueles que, por qualquer motivo, seja ele escolha própria, inclinação, desejo ou herança genética, destoariam pelo comportamento. Faço aqui uso ciente do condicional, porque de facto, salvo raríssimas exceções (...), as lésbicas e os homossexuais transmontanos não destoam, pela simples razão de que nesse particular Trás-os-montes não fala «dessas coisas» e faz par com a antiga União Soviética, o Partido Comunista Chinês e o governo do Zimbabué, para quem a homossexualidade não existe."

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Perversões by Jesse Bering

PerversõesPerversões by Jesse Bering
My rating: 1 of 5 stars

Esta edição tem tantas gralhas e uma tradução tão deficiente que é impossível compreender o conteúdo de parágrafos inteiros, o que perturba fortemente a compreensão do texto e a fluência da leitura de um livro cujo conteúdo parece ser muito interessante. É por isso que leva 1 estrela!
Caso encontrem outra edição, por favor, leiam, porque o conteúdo merece, sem dúvida, 4 estrelas.

Num tom divertido e desarmante (o autor confessa no livro as suas "perversões" mais "vergonhosas"...), Jesse Bering fala das parafilias e de como o significado do que é, ou não é, uma perversão tem evoluído ao longo da história.

Alerta-nos para a angústia e opressão que sentem os que não se atrevem a "sair do armário" dos seus desejos sexuais desviantes, mesmo que inofensivos (uma atração sexual por botas, por exemplo, é inofensiva), por receio de serem estigmatizados pela sociedade.

Explica que muitos dos comportamentos sociais discriminatórios têm uma base evolucionária forte, o que não os justifica. Individualmente e socialmente temos a inteligência e a sensatez suficientes para reconhecer e recusar a discriminação. Neste campo, um exemplo muito interessante é o que tem a ver com a criação de "etiquetas" sobre sexualidade: Lésbica Gay Bi Trans Queer Inter Assexual... etc... como se fosse possível descrever a complexidade e a riqueza de personalidade de um indivíduo só com uma etiqueta. No entanto, do ponto de vista evolucionário e reprodutivo, que etiqueta tem mais valor do que a etiqueta da sexualidade?

Refutando os argumentos do "natural" e do "fim reprodutivo" da moral conservadora (utilizando para isso as suas contradições internas), o autor defende que o único critério aceitável para a repressão de atos sexuais é o facto de este causarem, ou não, danos a terceiros.

E termina numa nota positiva, desejando que o nosso sistema de valores evolua para passar a fundamentar-se não na moral religiosa ou conservadora, mas em factos científicos estabelecidos, na crença de que as orientações sexuais nunca são escolhidas pelos próprios, de que o mal não existe a não ser nas nossas mentes, de que os pensamentos lúbricos não são atos imorais e de que nenhum comportamento sexual deve ser condenado se não causar danos comprováveis.

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