segunda-feira, 20 de julho de 2015

Amor entre Samurais by Ihara Saikaku

Amor entre SamuraisAmor entre Samurais by Ihara Saikaku
My rating: 4 of 5 stars

Ihara Saikaku (1642-1693), foi um romancista e poeta japonês, considerado um dos pais do conto e do romance no Japão. Com os seus livros da série "Mundo Flutuante", revolucionou a prosa japonesa, abordando temas populares e quotidianos, por vezes licenciosos e proibidos, numa linguagem simples e coloquial. Escrevia para vender e ganhar dinheiro, mais que para permitir a reflexão do leitor ou para o informar. As suas obras tiveram enorme sucesso comercial durante a sua vida, mas acabaram por ser esquecidas até ao final do século XIX, quando finalmente recomeçaram a despertar o interesse dos estudiosos. No entanto, devido ao seu conteúdo erótico, muitos contos e novelas continuaram censurados pelos governos militares que dominaram o Japão no início do século XX, e só após a II Guerra Mundial foram publicadas as suas Obras Completas. Yukio Mishima declarou uma vez que o seu livro, Confissões de uma Máscara, era a primeira obra importante a abordar o tema da homossexualidade no Japão depois de The Great Mirror of Male Love, de Saikaku.

Comrade Loves of the Samurai é uma seleção de contos de Saikaku que aborda o tema do amor entre samurais, traduzidos para o inglês por E. Powys Mathers, em 1928, a partir da tradução francesa por Ken Sato. São pequenas histórias ternas e cândidas de paixões devastadoras entre samurais, que terminam frequentemente em haraquiri, de acordo com o código de honra dos tradicionais guerreiros japoneses. O amor retratado tem, surpreendentemente, dada a distância geográfica e temporal entre as duas culturas, muitas semelhanças com o amor grego, surgindo frequentemente a figura tutelar do homem mais velho, que ama, aconselha e educa o jovem por cuja beleza se apaixona. Surpreendente é, também, a descoberta de que por detrás da frieza marcial e assassina que nos habituámos a associar aos míticos samurais japoneses existiam, na verdade, relações homossexuais de amor e ternura inesperadas.

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O mapa e o território by Michel Houellebecq

O mapa e o territórioO mapa e o território by Michel Houellebecq
My rating: 4 of 5 stars

Esta é a vida de Jed Martin que, como por acaso, fez fama e fortuna no mundo da arte. Jed não era ambicioso, nem sabia muito bem o que queria da vida, mas era obcecado e perfecionista: primeiro, decidiu fazer um inventário fotográfico de todas as ferramentas e utensílios do homem, chaves de parafusos, garfos e colheres, mesas e cadeiras,... depois, subitamente, apaixonou-se pelos mapas de estradas da Michelin ("o mapa é mais interessante que o território"), e passou dez anos a fotografá-los em perspetiva, iluminados lateralmente, parcialmente desfocados,... em seguida fechou-se anos a pintar todas as artes e ofícios (o talhante de carne de cavalo, o empresário no seu último dia de escritório, Bill Gates e Steve Jobs conversando,...) até que, já podre de rico, regressou à aldeia dos avós e se fechou numa propriedade cercada por uma rede de 3 metros de altura e encimada por um cabo de segurança elétrico.

Parece demasiado simples e extravagante, mas a vida de Jed Martin não é mais que um pretexto que permite a Michel Houllebecq discorrer de forma brilhante, mas despretensiosa, entre outras coisas, sobre fotografia, sobre arquitetura (a desumanização de Le Corbusier e Van der Rohe vs o movimento Arts & Crafts inspirado por Charles Fourier e William Morris), sobre crítica de arte (aqui, cheio de ironia), sobre a morte (a vida, o suicídio, a eutanásia) e sobre a solidão. E sim, muitos dos personagens são pessoas verdadeiras, com a ficção a enredar-se na realidade, ao ponto de Michel Houllebecq ser ele próprio um dos personagens principais do seu próprio livro, o personagem que será central no capítulo "policial" deste romance! Sim, há mistura de géneros, e um capítulo inesperadamente policial, com um assassínio misterioso e um comissário de polícia a investigar! Será Jed Martin o assassino?

Parecia um enredo simples, não parecia? Mas não é... é um livro inesperado, desconcertante por vezes, mas muito bem escrito, muito interessante e enriquecedor.




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