domingo, 20 de setembro de 2015

Middlesex by Jeffrey Eugenides

Middlesex Middlesex by Jeffrey Eugenides
My rating: 4 of 5 stars

"Começarei por dizer que nasci duas vezes: primeiro, como menina bebé, num dia invulgarmente limpo na cidade de Detroit, em Janeiro de 1960. Depois, outra vez, como rapaz adolescente, numa sala de urgências perto de Peroskey, Michigan, em Agosto de 1974. Os leitores da especialidade ter-se-ão talvez cruzado comigo num estudo publicado em 1975 pelo Dr. Peter Luce, no «Journal of Pediatric Endocrinology» sob o título «Gender Identity in 5-Alpha-Reductase Pseudohermaphrodites». Ou talvez tenham visto a minha fotografia no capítulo 16 do tristemente esquecido «Genetics and Heredity». Lá estou eu na página 578, nu, especado em frente a um quadro de medição com uma caixa preta a tapar-me os olhos."

É assim que começa Middlesex, de Jeffrey Eugenides, com o personagem principal, Callie/Cal contando-nos o "fim" da história. Mas antes de chegar à última página do livro, regressaremos 2 gerações atrás, ficaremos a conhecer a saga dos seus avós gregos, refugiados vindos da Turquia, onde escaparam milagrosamente ao grande fogo de Esmirna, para integrar o milagre industrial americano na capital dos automóveis, em Detroit, e o seu posterior declínio.

Muito bem escrito, muito bem traduzido, sempre muito interessante ao longo das mais de 500 páginas, sobretudo do ponto de vista histórico, não deixa no entanto de deixar um travo a desilusão, pois a temática que tão bem é enunciada logo nas primeiras páginas (e aqui não posso alargar-me sob pena de estar a revelar demasiado...) acaba por ser apenas abordada quase só nos últimos capítulos.

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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Fahrenheit 451 by Ray Bradbury

Fahrenheit 451 Fahrenheit 451 by Ray Bradbury
My rating: 4 of 5 stars

Num futuro incerto (o livro foi escrito em 1953), Montag é um bombeiro numa época em que os bombeiros deixaram de ser necessários para apagar fogos - todos os edifícios são agora ignífugos - mas continuam a ser especialistas em incêndios, já que a sua missão é agora queimar livros, esses objetos que apenas trazem infelicidade às pessoas: "Os negros não gostam de «Little Black Sambo». Queimemo-lo. «A Cabana do Pai Tomás» não agrada aos brancos. Queimemo-lo. Um tipo escreveu um livro sobre o tabaco e o cancro do pulmão? Os fumadores de cigarros ficam consternados. Queimemos o livro. A serenidade, Montag, a paz, Montag. Liquidemos os problemas, ou melhor ainda, lancemo-los no incinerador; os enterros são tristes e pagãos? Eliminemo-los igualmente. Cinco minutos após a morte, todo o indivíduo vai a caminho do Grande Crematório, por meio dos Incineradores servidos por helicóptero em todo o país. Dez minutos após a morte, o homem nada mais é que um grão de poeira negra. Não vaticinemos acerca dos indivíduos a golpes de inconsoláveis memórias. Esqueçamo-las. Queimemo-los, queimemos tudo. O fogo é brilhante, o fogo é lindo."

Fahrenheit 451 ("a temperatura a que um livro se inflama e consome"), escrito em plena época do McCartismo americano, apresenta-nos um futuro de perda de individualidade, de manipulação de informação, de repressão e medo, num cenário mais mecânico que eletrónico que, lido nos dias de hoje, parece padecer já de algumas marcas da passagem do tempo... ou talvez não, com o escalar das guerras regionais, das crescentes massas de refugiados, da xenofobia, do consumismo e comodismo, da progressiva intrusão dos Estados nas nossas vidas privadas, talvez a ameaça de um futuro como o de Fahrenheit 451 continue a pesar sobre as nossas cabeças!

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