quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Viagem por África - Uma viagem por via terrestre entre o Cairo e a cidade do Cabo by Paul Theroux

Viagem por África - Uma viagem por via terrestre entre o Cairo e a cidade do CaboViagem por África - Uma viagem por via terrestre entre o Cairo e a cidade do Cabo by Paul Theroux
My rating: 4 of 5 stars

Theroux embarca no desafio pessoal de viajar do Cairo à Cidade do Cabo por via terrestre, não tanto por vontade de visitar os lugares turísticos que vai encontrando pelo caminho, mas sobretudo pelo desejo de se isolar do burburinho do mundo civilizado ocidental. Embora tenha conseguido atingir o seu objectivo (obviamente!), a sua jornada não é fácil, tanto a nível físico como emocional. A burocracia para obtenção de vistos é imprevisível, cruzar fronteiras terrestres é um pesadelo (mas quem quer visitar a África profunda deve visitar os postos fronteiriços, aconselha o autor), as infraestruturas de transporte, quase todas construídas pelos antigos colonos britânicos, alemães, portugueses e holandeses, estão degradadas ou destruídas, as estradas do interior são acossadas por ladrões armados, sem que se saiba se os piores são os polícias, os soldados ou os bandidos.

Paul Theroux, que tinha vivido e trabalho no Malawi e no Quénia nos anos 1970, fica indignado com a África que encontra passados 30 anos, onde a pobreza e o crime se generalizaram, arrasada por sucessivas guerras e por má gestão, desleixo e falta de ambição, mas não hesita em apontar culpados: os políticos e governantes africanos, gananciosos e corruptos, que precisam de manter o seu povo miserável para conseguirem auxílio humanitário dos países ricos e das ONG, auxílio que embolsam em seu favor e dos seus comparsas.

Implacável nos seus julgamentos, por vezes quase misantropo, Theroux delicia-se apenas com os momentos em que está sozinho, longe de tudo, no meio do nada, sentindo o calor quente do deserto ou a chuva tropical no rosto, observando um céu estrelado ou os relâmpagos longínquos de uma tempestade, ou mesmo saboreando uma sopa de galinha à entrada de uma palhota de lama. Tudo o resto está destruído, ou não presta, ou é mau ou ignorante! Os turistas, que chegam protegidos pelo ar condicionado dos grandes autocarros, e saem apenas por uns minutos para tirar meia dúzia de fotos e ouvir umas patranhas pseudo-turísticas ditas por uns guias pseudo-informados-historicamente, são alvo do seu desdém. Este não é um homem que procure confortos e que se iniba de viajar em camionetas e comboios atafulhadas de gente, galinhas e sacos, a cair de podres, por estradas lamacentas, nem no tejadilho de camiões de transporte de animais onde é alvo dos tiros dos bandoleiros da estrada que mais que o seu dinheiro ou a sua morte, lhe cobiçam os sapatos.

Uma viagem aventureira e romântica, o primeiro livro de Paul Theroux que li e que, sendo eu viciado em viagens, me deu enorme vontade de ir a correr comprar O Grande Bazar Ferroviário, O Velho Expresso da Patagónia ou A Arte da Viagem!

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