segunda-feira, 12 de junho de 2017

O Virgem Negra: Fernando Pessoa explicado às Criancinhas Naturais e Estrangeiras by Mário Cesariny

O Virgem Negra: Fernando Pessoa explicado às Criancinhas Naturais e EstrangeirasO Virgem Negra: Fernando Pessoa explicado às Criancinhas Naturais e Estrangeiras by Mário Cesariny
My rating: 4 of 5 stars

Fernando Pinto Amaral (in "Colóquio/Letras") resume supremamente esta obra singular de Cesariny: “Conseguir surpreender-nos sempre foi uma característica da poesia de Mário Cesariny de Vasconcelos. Com ele aprendemos a esperar o inesperado, fugindo das mais previsíveis cristalizações do sentido e abrindo-nos à voracidade das perguntas que transformam em estranha vertigem cada nova leitura dos seus textos. (…) No caso presente, o horizonte define-se a partir do próprio título da obra (…) cuja intenção jocosa não oferece dúvidas. (…) O programa consiste em revisitar Pessoa, não só através de algums poemas engenhosamente reescritos, como também graças a outros de origem não directamente pessoana, mas nos quais o sujeito é o poeta da ‘Mensagem’. (…) Ao definir-se como ‘Eu o mim de mim expulso’, este Pessoa foge a classificações preconcebidas em que às vezes há quem deseje encaixar o poeta, e que leitores mais apressados poderiam concluir, por exemplo, da abertura de um muito singular poema: ‘Alheio ao céu e à luz / De Seth e de Rimbaud / No Antinoo depus / O paneleiro que sou.’ Perante versos tão claros como estes, dir-se-á estarmos em face de uma explicação de Pessoa pela via da homossexualidade. Ora, se isso é, pelo menos em parte, verdadeiro, não pode um livro como ‘O Virgem Negra’ ver-se resumido a tal intenção, por ser mais amplo o fôlego que anima Cesariny: é que o poeta procura fazer luz sobre todo o cosmos pulsional de Pessoa, nunca perdendo de vista um erotismo cuja expressão é activamente interpelada em cada texto – mesmo quando pareça muda, contraditória, demasiado subtil ou simplesmente incompreensível.” (ou usando a ironia do próprio Cesariny: "Isso eu quiz dizer naquele verso louco que tenho ao pé: / «O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é» / Verso que, como sempre, terá ficado por perceber (por mim até).")

Dois exemplos (extremos) da intertextualidade com Pessoa em "O Virgem Negra":
"Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada! / Supor o que dirá / Tua boca velada / É ouvir-te já. // É ouvir-te melhor / Do que o dirias. / O que és não vem à flor / Das caras e dos dias. // Tu és melhor - muito melhor! - / Do que tu. Não digas nada. Sê / Alma do corpo nu / Que do espelho se vê."
"O Álvaro gosta muito de levar no cu / O Alberto nem por isso / O Ricardo dá-lhe mais para ir / O Fernando emociona-se e não consegue acabar. // O Campos / Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia / Ficavam-lhe os olhos brancos / E não falava, mordia. O Alberto / É mais por causa da fotografia / Das árvores altas nos montes perto / Quando passam rapazes / O que nem sempre sucedia. // (...)"

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