domingo, 10 de julho de 2016

Eugénia e Silvina by Agustina Bessa-Luís

Eugénia e Silvina Eugénia e Silvina by Agustina Bessa-Luís
My rating: 4 of 5 stars

Tudo se passa ao redor do solar da Malhada, nos arredores de Viseu, e dos seus proprietários. A baronesa Eugénia Silva Mendes, herdeira da Malhada e de uma fabulosa fortuna. A sua neta Eugénia Viseu, neta bastarda da baronesa, que se transforma numa elegante dama da sociedade parisiense, sempre acompanhada pelo galante tenente Freitas Barros, de quem se diz ser seu amante, e de uma dama de companhia, Maria Augusta, que talvez tivesse sido o que o tenente não foi. João Trindade, um homem do povo, que se apaixona por Eugénia e que, não podendo aspirar a casar com ela, faz um filho a uma das suas damas de companhia, após o que foge para São Tomé, onde enriquece mais como negreiro do que como fazendeiro de cacau. Silvina, a filha bastarda de João Trindade, que ele adopta quando regressa rico de São Tomé e com quem vai viver, diz-se que em relação incestuosa, na Malhada, que João Trindade compra e recupera da decadência em que caíra após a morte da sua inalcançável viscondessa Eugénia Viseu. Finalmente, Claudino, o marido contratado para Silvina, e Albina, a sua fidelíssima e amantíssima criada, a "Maria Augusta" de Silvina.

"A menina Elvirinha, filha dos caseiros da Malhada, era empregada de padaria, na Rua Nova, de Viseu. Levantava-se com as estrelas, calçava uns sapatos de presilha que lhe garantiam a condição urbana, e saía de casa; encurtava caminho pelo terreno chamado O lameiro, e entrava na estrada, perto da Poça das Feiticeiras. Desta vez teve um susto, mitigado pelo facto de o seu encontro arrepiante contar com a presença dum guarda de Ranados que ela conhecia. Dentro da água limosa e com pouca profundidade estava o corpo de um homem que ela achou ser um mendigo. O rosto, de tão maltratado, era irreconhecível." Era João Trindade.

Não, não vos estou a revelar o enredo do romance, pelo menos não mais que a autora o faz nas primeiras páginas. Com efeito, ao longo de quase 400 páginas, Agustina Bessa-Luís gira e volta a girar à volta dos mesmos lugares, dos mesmos personagens, dos mesmos acontecimentos. Mas não faz círculos, antes nos arrasta numa espiral, que nos aproxima cada vez mais, milimetricamente, de um desfecho que não chega a acontecer. Mas a escrita é tão bela, a condução do leitor tão delicada, que nos deixamos enredar e "entramos" na história, "conhecemos" os locais, "convivemos" com os personagens, que acabam por nos ser tão familiares que, quando viramos a última página do livro, imediatamente lhes sentimos a falta.

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