domingo, 4 de maio de 2014

A Grã-Canária (Os Grão-Capitães) by Jorge de Sena

Os Grão-CapitãesA Grã-Canária (Os Grão-Capitães) by Jorge de Sena
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Os cadetes acordam nas camaratas, estremunhados, ao som do clarim. O navio vai dar entrada no porto de Las Palmas da Grã-Canária. O comandante quer apresentar-se impecável, em representação de Portugal, face a uma Espanha mergulhada em guerra civil, e na sua voz de falsete ordena: “A ordem é: lavar o navio, lavar as ventas e lavar a roupa.” Bem recebidos pelas autoridades locais, onde se misturam as sotainas negras dos padres e os “Arriba España” franquistas de braço erguido, os oficiais e cadetes são levados para um almoço demorado na encosta da montanha. Ao anoitecer, ainda enjoados do banquete mas por fim livres, procuram alívio para outra sede maior, a do desejo sexual acumulado pela longa travessia marítima.

A passagem de Jorge de Sena pela Marinha, de onde foi excluído após uma viagem no navio-escola Sagres, parece ter servido ao autor de inspiração para este conto. As razões para a exclusão nunca foram divulgadas: Mécia de Sena considera que foram de natureza política, enquanto Arnaldo Saraiva indica a falta de destreza física e militar, embora referindo que em Lisboa corriam “boatos” que falavam da suposta homossexualidade do autor. Neste conto, curiosamente, surge relatado um episódio em que o narrador e dois dos seus melhores amigos cadetes são insultados como “paneleiros” e “comunistas”; o autor do insulto será, posteriormente e já a bordo do navio, alvo de violenta agressão pelo Bravo, um dos insultados, que o amarra e viola, só sendo dominado pelos amigos, “arquejante, com espuma nos lábios, de sexo em riste, (…) rugindo ainda entre os dentes cerrados: - Seu leproso, seu filho da puta, quem é que é comunista?”

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