domingo, 19 de agosto de 2018

Um Diário Russo by John Steinbeck

Um Diário RussoUm Diário Russo by John Steinbeck
My rating: 4 of 5 stars

Logo no pós-guerra, John Steinbeck e Robert Capa conseguem autorização para visitar a União Soviética e, surpreendentemente, ao ficarem sob o patrocínio da Liga dos Escritores e não da dos Jornalistas, deixam-nos sair de Moscovo e visitar outras regiões. Nem um nem outro queriam discutir a política ou as tensões que existiam a nível militar e geo-estratégico entre as duas potências rivais. Queriam sim saber como era o povo, como vivia, o que pensava, fotografá-lo e escrever sobre ele.

Encontram cidades ainda em ruínas, mas um povo determinado em reconstruir e refazer as suas vidas. E descobrem que, sendo gigantesca, a federação soviética é um mosaico de gentes, de temperamentos (mais sombrios e distantes em Moscovo, mais alegres e calorosos na Geórgia) e de geografias e climas (continental em Moscovo e tropical na costa do Mar Negro).

É curioso verificar que Steinbeck parece confundir Rússia com União Soviética. Com efeito, mesmo o título do livro deveria ser "Um Diário Soviético", uma vez que talvez metade do mesmo seja dedicado à descrição das visitas à Ucrânia e à Geórgia. E também é curioso verificar que algumas das suas experiências parecem aquelas visitas programadas, com objetivos propagandistas, que se faziam através da Associação de Amizade Portugal-União Soviética, onde os visitantes eram levados a escolas ou fábricas modelo, em nada representativas da vida da generalidade dos cidadãos. Steinbeck e Capa andaram sempre acompanhados por um "tradutor oficial" nas suas visitas. Por exemplo, quando viam as prateleiras das lojas vazias e as longas filas que se formavam e que logo esgotavam qualquer que fosse o produto que chegava ao estabelecimento, logo lhes explicavam que era o resultado da destruição das fábricas durante a guerra e que um futuro radioso e de abundância esperava os povos soviéticos. Tal não se veio a confirmar, infelizmente, como todos sabemos. Mas Steinbeck parece perceber que as coisas não são bem como lhas apresentam, e vai-nos avisando frequentemente que só escreve aquilo que vê e que lhe contam.

O livro é muito interessante e lê-se num fôlego, mesmo se algumas passagens são excessivamente diarísticas ("fomos para o hotel", "viemos do aeroporto", "almoçámos bem",...). As fotos de Robert Capa enriquecem a obra, apesar das restrições e da censura que as autoridades soviéticas lhe impuseram. Mas é a escrita de Steinbeck que é central, sobretudo quando Steinbeck aplica o seu apurado sentido de humor e a sua penetrante ironia, por vezes em relação a si próprio e a Robert Capa.

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