domingo, 25 de dezembro de 2016

António Variações. Entre Braga e Nova Iorque by Manuela Gonzaga

António Variações. Entre Braga e Nova IorqueAntónio Variações. Entre Braga e Nova Iorque by Manuela Gonzaga
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António Variações foi uma supernova que cintilou por um breve instante sobre Portugal. Foi intenso, criativo, um pouco ingénuo talvez, muito original. Iluminou com cores inesperadas e brilhantes a música e a televisão dos anos 1980. Numa sociedade conservadora, em que poucos ousavam ser diferentes, António Variações era quase irreal: um barbeiro homossexual que compunha letras e músicas, que as cantava e dançava ele mesmo, que criava as roupas que vestia, ou que se apresentava quase despido, um homem que cuidava do corpo e da cara, que deixava crescer a barba e até se pintava (talvez um vídeo valha mais que muitas palavras!). Surpreendentemente, apesar de desdenhado pelos "intelectuais", teve a coragem de ser igual a si próprio: extravagante, irreverente, transgressor, queer.

Um homem assim merece uma biografia, pois claro! Quem era? O que pensava? Quem amou? Quem odiou? O que o levou a ser quem era? Como se definia a si próprio? Que objetivos tinha na vida? Que sentiu pela guerra colonial, em que participou? Que se passou em Londres e Amesterdão? Como descobriu a sua sexualidade e como a viveu? E quando viu a morte pela frente?

A um biógrafo pede-se que nos faça entrar na "pele" do biografado, que nos faça sentir como ele sentiu e que nos explique porquê. Infelizmente, a voz de António Variações raramente se ouve nesta biografia de Manuela Gonzaga. E quando se ouve, é abafada pelo "ruído" da infindável transcrição de entrevistas e artigos de jornais e revistas, muitas repetindo o dito (Lena de Água conta duas vezes que António a chamava por "Aguinha"), por secções inteiras sobre a vida do país (as marcas de pastas de dentes que se usavam então, Binaca, Pasta Medicinal Couto e Dentosan, sem que se perceba se António usava alguma), pelos extensos enquadramentos históricos impessoais (sobre a guerra no Vietname, por exemplo, sem que se explique o que pensava António sobre a mesma), ou, por uma página inteira listando nomes de artistas de teatro e revista, apenas para dizer que António foi ao Parque Mayer uma vez com a irmã, e que a irmã riu muito, mas que ele não era muito de rir, etc., etc.

É claro que muitos destes detalhes serão interessantes para quem se interessa por história ou sociologia. Mas são frustrantes para quem está curioso e quer saber mais sobre o homem que foi António Variações e se depara com um repositório de textos ordenados cronologicamente, alguns dos quais só remotamente relacionados com o biografado. Um bom revisor aconselharia a cortar muito (muito!), a responder a todas as perguntas que ficaram por responder, e a contar mais e melhor sobre esse homem único que foi António Variações.

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