sexta-feira, 20 de maio de 2016

Era Uma Vez em Goa by Paulo Varela Gomes

Era Uma Vez em Goa Era Uma Vez em Goa by Paulo Varela Gomes
My rating: 4 of 5 stars

Graham, um inglês, entra pela fronteira terrestre de Goa em direção à mítica praia de Anjuna, que vira numa fotografia paradisíaca em casa de um amigo em Bombaim. Estamos em 1963, a Índia de Nehru acabou de invadir a colónia portuguesa e Graham é moreno, poderia bem ser um "pacló", o que levanta dúvidas às novas autoridades do território, em estado de alerta contra possíveis infiltrações dos antigos administradores. Quando finalmente consegue chegar a Anjuna, viajando em camiões e camionetas (com velhos ao colo), carroças puxadas por búfalos, à boleia, depois de inúmeras peripécias (acolhido por um médico goês, encharcado pelas monções, ameaçado com uma pistola por um agente da PIDE, apanhando boleia de um aristocrata local que tem, de visita, o escritor Graham Greene...), descobre que a realidade não corresponde frequentemente ao mito, sendo muitas vezes pior, mas podendo ser, por vezes, muito melhor e surpreendente.

Este é um livro de viagens a fingir! A fingir porque é narrado na primeira pessoa, por Graham, um inglês, quando o autor é Paulo Varela Gomes, um português; a fingir porque descreve uma viagem que não aconteceu, embora saibamos que o autor conhece bem Goa por lá ter vivido alguns anos; a fingir porque o próprio autor o confessa, em divertidas notas de rodapé. Mas apesar de ser a fingir, consegue proporcionar-nos uma emocionante viagem a uma época em que Goa já não era portuguesa e católica, mas ainda não era indiana e hindu, quando ainda se falava português e concanim, mas já se começava a aprender inglês nas escolas, numa época em que ainda não tinham chegado as hordas de turistas, primeiro os hippies em busca de um Shangri-La no Índico e depois dos gigantescos resorts "all-inclusive" à beira-mar.

Um livro de viagens é como um rio, vive da dinâmica do caminho, da perseguição tenaz de um destino, de um objetivo. "Era uma Vez em Goa" é também um rio que corre inicialmente muito forte, montanhoso, mas que, com a chegada a Anjuna, acalma como se entrasse numa albufeira de uma grande barragem que lhe impede a marcha. Aí chegado, "Era uma Vez em Goa" parece-se mais com um romance do que com um livro de viagens. Mas esse lago sem saída aparente é indispensável para que Graham se descubra (no pedaço de escrita mais poderosa de toda a narrativa) e descubra que o seu destino é prosseguir a viagem.

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