segunda-feira, 18 de abril de 2016

Na Patagónia by Bruce Chatwin

Na Patagónia Na Patagónia by Bruce Chatwin
My rating: 4 of 5 stars

Em 1974, Bruce Chatwin, um inglês "queimado", segundo disse, "por trabalhar numa espécie de casa funerária de luxo [a leiloeira Sotheby's] (onde a vida lhe parecia) gasta em homologações e avaliações de apartamentos de mortos" e depois de um período como editor de arte no Sunday Times, decide partir sem aviso: "Vim para a Patagónia", foi o curto telegrama que enviou ao seu chefe de redação, já depois de ter chegado.
Desde pequeno, Chatwin sonhava visitar a Patagónia, a terra de onde provinha o pedaço de pele de "brontossauro" que tanto o fascinava em casa dos seus avós, e é a partir desta memória que parte para a sua "narrativa de uma viagem real mas que também foi simbólica... (...) o narrador viaja para um país distante à procura de um estranho animal: pelo caminho depara-se com estranhas situações, pessoas e outros livros, que lhe contam estranhas histórias que ele colige para deixar um testemunho."

Embora seguindo a tradição de Robert Byron, que tanto admirava, Chatwin é profundamente inovador neste livro, tanto na forma como no estilo condensado e sucinto da escrita. Esta é literatura de viagens, mas uma literatura que nos faz viajar não só pela geografia dos locais como também pelo espírito da terra, moldado pelas histórias dos homens que por lá passaram e morreram. Histórias dos índios da Terra do Fogo (dizimados pelos colonos e pela varíola no final do século XIX), histórias das peripécias por que passou o dicionário da metafórica língua yamani, elaborado pelo reverendo Thomas Bridges, o grande e único monumento que subsistiu da cultura desses povos austrais desaparecidos. Lendas sobre os fugitivos da polícia que vaguearam por ali (Butch Cassidy and the Kids, os revolucionários anarquistas argentinos), de refugiados de guerras e de perseguições (galeses, escoceses, judeus, nazis alemães...) ou ainda de gente aventureira, que não consegue estar fechada entre as quatro paredes de uma casa de cidade e prefere a solidão e os perigos dos mares e terras do fim do mundo, como o marinheiro Charley, que conseguiu salvar toda a tripulação do seu navio encalhado perto do Estreito de Magalhães tal como profetizado por um louco à sua partida da Austrália, meses antes, ou Herman Eberhard, o "rapaz viril com tremendos apetites" que escapou da Academia Militar prussiana e viria a estabelecer-se em Puerto Consuelo, depois de subir a remos o desfiladeiro da Última Esperança, onde descobriu uma gruta, sobre uma falésia, repleta de ossos e da pele do "brontossauro" que o marinheiro Charley haveria de oferecer ao avô de Bruce Chatwin e o levaria a escrever este livro.

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