Pátio D'Alfândega Meia-Noite by Álamo Oliveira
My rating: 3 of 5 stars
O Poeta Porreirinho morre e o médico-legista declara como causa mortis: parto não consumado por asfixia introintelectual, ou seja, o poeta morreu com um romance (o seu romance) dentro da barriga. Pior, as páginas do romance estão baralhadas, e Patachão, o grande amigo do Poeta Porreirinho, lutará denodadamente por ordenar o romance, tentando várias opções, mas nenhuma "a" certa, "a" verdadeira. Ao fazê-lo, descobre que o romance fala dos amigos comuns (a Rosa Cambadinha, a namorado do Poeta, que se suicida quando sabe da morte deste; o Graciosa, um bailarino excêntrico que dança nu na rua e faz amor com o Puto, o pescador que morrerá espancado por denunciar a especulação com o cimento para a reconstrução da cidade depois do terramoto; ou Alzira, uma prostituta com quem Patachão se entende), dos lugares da cidade onde vivem (Angra do Heroísmo, com o seu Monte Brasil, o banco verde do Pátio d'Alfândega ou o fumarento Café Atlântico). Na ânsia de ordenar e reordenar o romance para o "encontrar", Patachão começa a misturar a realidade com a ficção, e uma noite, quando encontra sentado no banco verde do Pátio um fantasma do século XVI, Linschooten, o romance e a vida real fundem-se e tudo se perde (ou se ganha), e Patachão deixa de saber se está vivo ou morto também.
Um ensaio de escrita, imaginativo e poético, que capta muito bem a solidão e angústia das ilhas, num ambiente sempre noturno ou cinzento, opressor, pesado. Um romance dentro do romance, dois num só, mas que no final se juntam para dar só um. Interessante, mas não tanto como outras obras do autor, como Até hoje: Memórias de cão ou Já Não Gosto de Chocolates.
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