A Câmara Clara by Roland Barthes
My rating: 4 of 5 stars
Encontrei este livro na seção de fotografia de uma livraria. Interessado, folheei as primeiras páginas e pareceu-me que se tratava de uma reflexão sobre o que separaria a fotografia das outras artes ou, mesmo, se a fotografia mereceria ser tratada como uma. Após a leitura, deslumbrado, devo confessar, concluo que a livraria se enganou, e este livro deveria estar na seção de filosofia.
Como muito bem diz o meu amigo Miguel Botelho "sempre que um homem olha para si próprio, o que nós vemos é o mundo". E é isso que Barthes faz em A Câmara Clara. Interroga-se sobre o que o faz gostar de uma foto e conclui que não é o tema, nem o enquadramento, nem qualquer aspeto de natureza técnica, mas, sim, o pormenor que o faz sonhar, o “acaso que nela me fere (mas também me mortifica, me apunhala).”
E prossegue a sua reflexão, compreendendo, a partir de uma foto da sua mãe, recentemente falecida, que a fotografia é a prova irrefutável de que algo aconteceu, algo que foi realidade no passado: o noema da fotografia, a sua “característica inimitável”, seria, assim, o “isto foi”, e sem intermediação de um historiador, de um pintor ou de um ator.
A fotografia, conclui o autor, é agente do Tempo e da Morte e talvez possa “ter alguma relação com a «crise da Morte», que começa na segunda metade do século XIX (…) porque, numa sociedade, a Morte tem de estar em qualquer lado; se ela já não está (ou está menos) no religioso, deve estar em qualquer outra parte. Talvez nessa imagem que produz a Morte, pretendendo conservar a vida.” E é esta a contradição fundamental que constitui a sua “loucura”; é este o “êxtase fotográfico.”
A escrita é clara, bela e simples, de uma simplicidade só alcançável por quem é realmente genial.
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