quarta-feira, 23 de abril de 2014

Os Marginais e a Revolução by Bernardo Santareno

Os Marginais e a RevoluçãoOs Marginais e a Revolução by Bernardo Santareno
My rating: 4 of 5 stars

Quatro peças de teatro por Bernardo Santareno: "Restos", "A Confissão", "Monsanto" e "Vida Breve em Três Fotografias", todas abordando, de uma forma ou de outra, o período pós-25 de abril e a homossexualidade.

"Restos" é uma cena na vida da Misu e do Tó Mané, ambos com vinte anos, fugidos de casa, toxicodependentes, que se isolaram do mundo, desesperados, e se fecharam num quarto. Destroçados pela droga, com Tó Mané impotente ("para que serve essa coisa mole e enrugada que tens entre as pernas?!"), nem mesmo quando Zé Carlos, um amigo de Tó Mané que o quer levar para o partido comunista e de quem Misu sente ciúmes, nem mesmo quando o amigo lhes bate à porta, encontram os dois forças ou vontade para voltar ao mundo.

Em A Confissão, Bernardo Santareno coloca perante um mesmo padre, num confessionário, três mulheres em sucessão: uma mulher do povo aflita, a quem o marido bate e atraiçoa, o que a leva a aproximar-se da sua patroa comunista, e a quem o sacerdote apenas recomenda que aceite o marido e fuja do comunismo, rezando muito; Françoise, "uma mulher em corpo de homem", que a seguir ao 25 de abril começou a fazer shows de travesti, e a quem o sacerdote ordena que deixe a homossexualidade, rezando muito; e D. Filipa, uma fervorosa devota... Uma sátira acutilante à hipocrisia da Igreja Católica.

Em "Monsanto", o sr Silva, desapontado com a vida, passa uma corda por um ramo de árvore determinado a enforcar-se. Mas das sombras da noite de Monsanto surgem Zé Grilo e Amélia, cujas vidas são, essas sim, tão dramáticas que emocionam o sr Silva fazendo-o compreender a real proporção das suas aflições. No final, abraçados e rindo, decidem ir os três (Amélia, que é lésbica, incluída) “às putas.” Excelente!

"Vida Breve" é uma peça em três atos (“fotografias”), acompanhando uns dias da vida de Pedro, que fugiu de casa dos pais com 17 anos para ganhar dinheiro como prostituto no Parque de Eduardo VII, em Lisboa. Na primeira fotografia, um Senhor cobiça lascivamente um rapaz adormecido (Pedro) num banco de jardim. Na segunda, Pedro e o seu amigo Pau-Santo, um rapaz mulato repudiado pela família do seu pai branco após a chegada de Moçambique, a seguir à descolonização, assaltam uma senhora. Na terceira, Pedro e Pau-Santo desentendem-se e discutem, na presença de Formiga, uma jovem prostituta que se apaixonou por Pedro.


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