Choro de Criança (Os Grão-Capitães) by Jorge de Sena
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Um homem cansado vagueia pela noite da cidade do Porto, escura e húmida, miserável, imunda e fétida. Chegam-lhe os ruídos da noite, propagando-se e ecoando pelas paredes e muros da cidade, nas margens do rio invisível: um choro de criança, um sem-abrigo que se ergue de um monte de trapos, o tchum-tá-tum-tum-tchá de um comboio que passa. Por detrás de um portão entreaberto de ferro enferrujado, ouve os sussurros abafados de duas vozes masculinas e, pouco depois, um homem e um rapaz saem cautelosamente, olhando à volta. O rapaz vê-o e pede-lhe lume…
"Choro de Criança" é um admirável conto negro: os sons, os cheiros (os maus-cheiros), a miséria, o lixo, as dores, a sexualidade pulsante e desprovida de sentimento, a impotência, o desespero, são um cenário chocante para o deambular noturno do narrador pelas ruas mais escusas do Porto. O desenlace é, também ele, negro, mas o frescor da manhã que chega e o respirar tranquilo e ritmado do seu companheiro de quarto, acalma e serena o narrador (e o leitor!).
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