Loucura... by Mário de Sá-Carneiro
My rating: 4 of 5 stars
O narrador propõe-se contar a história de Francisco, um grande artista, recentemente falecido, mas muito bizarro. Eram amigos de infância, mas não podiam ser mais diferentes: "eu olhava com especial embirração para o rosto branco e cor-de-rosa, para a cabeleira loura e anelada desse rapazinho de enormes olhos azuis, que me lembrava uma miss inglesa. Ele, por seu lado (...) nutrira por mim uma secreta antipatia. Incomodavam-nos as minhas feições másculas, a minha cor trigueira, os meus cabelos negros e lisos; numa palavra, toda a minha figura era a antítese da sua."
Raul tinha ideias estranhas e em relação às mulheres, à família, à poesia, ao tempo, à vida... saía da norma, era esquisito, meio louco. Mas que é a loucura? "«Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei», diz o adágio; na terra dos doidos, quem tem juízo, é doido, concluo eu." Quando Raul se apaixona por Marcela, a sua vida e as suas ideias alteram-se, mas o seu raciocínio enviesado levará lentamente à tristeza e depressão e a um final fatal.
Um conto de muito bem escrito, com uma estrutura relativamente simples, embora com cenas muito belas, mas bastante ousadas para a moralidade da época. A transição lenta, mas inexorável, da altivez da diferença para a depressão dos becos sem saída em que Raul se vê enclausurado pelos seus raciocínios invulgares, é o fulcro desta obra e é feita com grande mestria pela mão de Mário de Sá-Carneiro.
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