Cidade Proibida by Eduardo Pitta
My rating: 3 of 5 stars
Eduardo Pitta narra os amores impossíveis de Martim, um jovem, filho de família burguesa da Linha do Estoril, por Rupert, um inglês expatriado em Lisboa, oriundo de uma família disfuncional de classe média, convocando para o seu romance um vasto conjunto de personagens que se movimentam pelos cenários de Lisboa, Londres, Estoril, Oxford, Lourenço Marques, África do Sul e Rio de Janeiro, nos tempos do primeiro primeiro-ministro engenheiro, mas com digressões ao passado, ao Estado Novo salazarento, ao Moçambique pré e pós-colonial, à Washington de Lyndon B. Jonhson, à Grã-Bretanha de Tatcher e do IRA, entre outros.
Apesar de ser educadamente, polidamente, mesmo amavelmente, recebido na “cidade proibida” da burguesia lusa em que se movimenta Martim, Rupert nunca deixa de ser considerado um outsider, um corpo estranho. (Num pormenor delicioso, Rupert interroga-se se Vasco Ravara – um amigo de Martim com quem passara uma noite tórrida numa orgia anónima em Marylebone – nunca menciona que já o conhecia por esquecimento ou timidez. Nem uma coisa nem outra! Eduardo Pitta, num “detalhe” magistral, deixado cair como que por acaso já nas últimas páginas do livro, revela-nos que Vasco se lembrava muito bem de Rupert, porque avisara Martim acerca do gangbang de Marylebone logo que soubera que o amigo se estava a apaixonar pelo inglês…).
Quando Rupert descobre que o seu tio Mark, a sua grande (única?) paixão – que ocupou o lugar do seu pai quando este abandonou a família e que se envolveu sexualmente com a cunhada mas também com o sobrinho – está doente com SIDA e vai morrer muito em breve, o choque é tremendo e Rupert, caindo em si, desiste de Martim e da hipocrisia da “cidade proibida” em que vivem a família e os amigos do namorado.
No seu estilo pessoal muito culto e cosmopolita, mas sempre frontal e corajoso, muito rápido e sucinto (por vezes, quase telegráfico), a criatividade de Eduardo Pitta consegue oferecer-nos, num texto de cerca de cem páginas, material que daria para um romance de muitas centenas de páginas ou para uma boa dúzia de contos interessantes. Apesar de ser omnipresente (dez, ou mais, personagens são homossexuais ou bissexuais), a homossexualidade não é o foco da narrativa, que trata, sobretudo, da desvalorização de um círculo social fechado e restrito a que se deseja pertencer, mas onde é difícil entrar e ser-se aceite.
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