Ainda Havia Sol by Guilherme de Melo
My rating: 3 of 5 stars
Dois livros num só, com narrativas intercaladas, uma na primeira pessoa, por Eduardo (um alter-ego do autor?) e outra na terceira, onde a história de Eduardo, um jornalista, se entrelaça com a de Liza, uma artista plástica que é sua amiga e confidente. Eduardo, um quarentão, sofre, relembrando a sua relação com um rapaz mais novo por quem se apaixonou e que protege, mas que deixou partir para longe, para o Algarve. Liza, não consegue libertar-se das teias do seu casamento com Dino, de quem se afastou depois de o ter surpreendido numa cena de sexo com a secretária. Eduardo é casto e sensato, esperando pacientemente pelo seu amado, sabendo que ele provavelmente não voltará, sobretudo se se deixar encantar por alguma “moura”. Liza, pelo contrário, é impulsiva e procura afogar a dor no álcool, no trabalho e em sucessivos encontros sexuais com todos os que a atraem, um militar num cacilheiro, um gigolo num bar de travestis ou um grupo de amigas lésbicas. Quando Dino reaparece, após uma episódio de bruxaria em Algés, a vida de Liza muda radicalmente mas ela acaba por descobrir que a água nunca passa duas vezes por debaixo da mesma ponte.
A estrutura com duas linhas narrativas acaba por ser um pouco desequilibrada: o romance é lento na primeira metade, mas é rápido no final; utiliza um estilo de escrita poético (e mesmo, alguma poesia), emocional e sensorial, na narrativa de Eduardo, e apresenta um estilo mais descritivo e realista na prosa de Liza; o enredo das duas linhas é quase independente e o desfecho é muito previsível. No entanto, a composição dos dois personagens principais (Liza e Eduardo) é muito boa, tal como a de Telmo (que, por pouco, seria genial), e certas passagens do enredo são deveras interessantes.
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