90 e Mais Quatro Poemas by C.P. Cavafy
My rating: 4 of 5 stars
Um conjunto de poemas de Constantino Cavafy selecionados, traduzidos, introduzidos e ricamente anotados por Jorge de Sena, com o objetivo de apresentar todas as fases da obra do grande poeta da Alexandria grega.
A poesia de Cavafy é etérea e nostálgica, usando as palavras de deuses, reis e guerreiros da antiguidade para evocar breves episódios dramáticos da história longínqua dos mundos grego e romano do período clássico, através dos quais nos deixa entrever os grande embates que se travavam à época, como o declínio político grego perante o poder romano ou a expansão inexorável da cristandade. Quando como em "Mires" ou "Deus Abandona Marco António", por exemplo, Cavafy consegue associar o instante histórico a uma tensão emocional muito forte, a sua poesia toca-me profundamente.
Mas não só, também me toca a sua poesia muito pessoal, cheia de uma nostalgia leve e enternecedora, em que Cavafys, poeta velho, recorda na primeira pessoa as emoções que experimentou há longos anos perante a beleza dos jovens por quem se apaixonou e que, resignado, já só tem esperança de reviver na memória.
Não deve passar dos vinte e dois. Contudo, / quase tenho a certeza de que há uns vintes anos / este mesmo corpo foi que eu possuí. // Não é uma ilusão do meu desejo. / Entrei neste casino apenas há instantes, / não tive tempo de beber de mais. / Foi este mesmo corpo que eu possuí. // Se não me lembra aonde - pouco importa. // Na mesa ao lado, agora, vem sentar-se: / ah reconheço os gestos dele - e sob a roupa / vejo-lhe nus os membros que eu amei.
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quinta-feira, 13 de agosto de 2015
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Olá Mundo Cruel! by Kate Bornstein
Olá Mundo Cruel! by Kate Bornstein
My rating: 4 of 5 stars
Kate Bornstein era um menino que não se sentia bem como menino e queria ser uma menina. Foi vítima de bullying e pensou suicidar-se várias vezes. Quando cresceu e conseguiu transformar-se em mulher, descobriu que também não estava bem como mulher! E passou a experimentar outras identidades e nenhuma. Hoje tenta explicar a sua sexualidade com a expressão "femme sadomasoquista submiss@", mas afirma que isso não é importante, e que vai mudando de identidade como quem muda de roupa, de acordo com as suas necessidades e humores.
O seu livro é simultaneamente um hino à liberdade de expressão ("o maior bem da vida, todo o propósito da liberdade e talvez aquilo que todos os seres humanos do planeta têm em comum é, sem dúvida, a busca da felicidade [...] Quem é que tem o direito de decidir qual o tipo de felicidade que está correcto?") e uma celebração da diferença ("Experimentas algo melhor e ficas a querer mais. Não há nada de errado nisso. Porra, não há nada melhor!").
Quando o que está em causa é uma infelicidade tão grande que pode levar ao suicídio, qualquer comportamento é válido, diz Kate Bornstein, desde que não se seja "mauzinh@" para os outros. E isso inclui permitir-se ser sexy contra os tabus da sociedade e da Igreja, mostrar-se tal como se é ou fingir-se de louc@, pedir ajuda ou fugir e esconder-se, brincar com a morte ou passar fome, mentir ou falar verdade, experimentar drogas...
Sim, entrámos no mundo do relativo, muito longe dos critérios absolutos e binários do é bom ou é mau, é rapaz ou rapariga, és nosso amigo ou nosso inimigo", o mundo do "ou isto ou aquilo". "Imagina um mundo onde qualquer pessoa pudesse, de uma forma segura e até alegre, expressar-se como sempre quis. Em que nada relativo aos corpos com que as pessoas nasceram ou àquilo que escolheram fazer com eles - a forma com os vestem, como os decoram, ou como os alteram ou aumentam - fizesse com que se rissem delas, ou que se fizesse deles alvos, ou que de alguma forma os privasse dos seus direitos. Consegues imaginar um mundo assim?"
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My rating: 4 of 5 stars
Kate Bornstein era um menino que não se sentia bem como menino e queria ser uma menina. Foi vítima de bullying e pensou suicidar-se várias vezes. Quando cresceu e conseguiu transformar-se em mulher, descobriu que também não estava bem como mulher! E passou a experimentar outras identidades e nenhuma. Hoje tenta explicar a sua sexualidade com a expressão "femme sadomasoquista submiss@", mas afirma que isso não é importante, e que vai mudando de identidade como quem muda de roupa, de acordo com as suas necessidades e humores.
O seu livro é simultaneamente um hino à liberdade de expressão ("o maior bem da vida, todo o propósito da liberdade e talvez aquilo que todos os seres humanos do planeta têm em comum é, sem dúvida, a busca da felicidade [...] Quem é que tem o direito de decidir qual o tipo de felicidade que está correcto?") e uma celebração da diferença ("Experimentas algo melhor e ficas a querer mais. Não há nada de errado nisso. Porra, não há nada melhor!").
Quando o que está em causa é uma infelicidade tão grande que pode levar ao suicídio, qualquer comportamento é válido, diz Kate Bornstein, desde que não se seja "mauzinh@" para os outros. E isso inclui permitir-se ser sexy contra os tabus da sociedade e da Igreja, mostrar-se tal como se é ou fingir-se de louc@, pedir ajuda ou fugir e esconder-se, brincar com a morte ou passar fome, mentir ou falar verdade, experimentar drogas...
Sim, entrámos no mundo do relativo, muito longe dos critérios absolutos e binários do é bom ou é mau, é rapaz ou rapariga, és nosso amigo ou nosso inimigo", o mundo do "ou isto ou aquilo". "Imagina um mundo onde qualquer pessoa pudesse, de uma forma segura e até alegre, expressar-se como sempre quis. Em que nada relativo aos corpos com que as pessoas nasceram ou àquilo que escolheram fazer com eles - a forma com os vestem, como os decoram, ou como os alteram ou aumentam - fizesse com que se rissem delas, ou que se fizesse deles alvos, ou que de alguma forma os privasse dos seus direitos. Consegues imaginar um mundo assim?"
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domingo, 2 de agosto de 2015
Mataram a Cotovia by Harper Lee
Mataram a Cotovia by Harper Lee
My rating: 5 of 5 stars
Scout, uma maria-rapaz de nove anos, o seu irmão Jem, quatro anos mais velho, e um amigo Dill, vivem as tradicionais aventuras de verão numa pequena cidade do sul americano, fazendo a sua dose de traquinices. São miúdos inteligentes a quem o pai, o advogado Atticus, trata com amor e respeito. Mas tudo irá mudar quando Tom Robinson é acusado de violar a filha de Bob Ewell e Atticus decide corajosamente enfrentar os preconceitos racistas do início do século XX num estado sulista para defender um negro contra um branco.
A história é contada por Scout, na primeira pessoa, como se estivesse a relembrar o que se passou naqueles anos difíceis. É uma narrativa carregada de inocência, de alguém que observa sem compreender completamente o que se está a passar (a discriminação racial, os hábitos sociais rídiculos,...) e que, sendo curiosa e arguta, faz perguntas e observações certeiras, por vezes cheias de ironia não intencional.
Apesar de nem sempre os "bons" ganharem e de haver dor, injustiça e maldade, todos os personagens, exceto os Ewells, têm uma faceta humana com a qual empatizamos imediatamente e que nos enternece. Mesmo a tia Alexandra ou os Cunninghams acabam por ser de certa forma simpáticos (são, teoricamente, dos mais perversos para as crianças). Aliás, ternura é, provavelmente, a palavra que melhor descreve a atmosfera deste romance, uma ternura que nos faz sentir protegidos ao lê-lo apesar da crueza dos eventos. Uma ternura que terá que ver com a nostalgia que todos sentimos dos "bons-tempos" da infância? Talvez...
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My rating: 5 of 5 stars
Scout, uma maria-rapaz de nove anos, o seu irmão Jem, quatro anos mais velho, e um amigo Dill, vivem as tradicionais aventuras de verão numa pequena cidade do sul americano, fazendo a sua dose de traquinices. São miúdos inteligentes a quem o pai, o advogado Atticus, trata com amor e respeito. Mas tudo irá mudar quando Tom Robinson é acusado de violar a filha de Bob Ewell e Atticus decide corajosamente enfrentar os preconceitos racistas do início do século XX num estado sulista para defender um negro contra um branco.
A história é contada por Scout, na primeira pessoa, como se estivesse a relembrar o que se passou naqueles anos difíceis. É uma narrativa carregada de inocência, de alguém que observa sem compreender completamente o que se está a passar (a discriminação racial, os hábitos sociais rídiculos,...) e que, sendo curiosa e arguta, faz perguntas e observações certeiras, por vezes cheias de ironia não intencional.
Apesar de nem sempre os "bons" ganharem e de haver dor, injustiça e maldade, todos os personagens, exceto os Ewells, têm uma faceta humana com a qual empatizamos imediatamente e que nos enternece. Mesmo a tia Alexandra ou os Cunninghams acabam por ser de certa forma simpáticos (são, teoricamente, dos mais perversos para as crianças). Aliás, ternura é, provavelmente, a palavra que melhor descreve a atmosfera deste romance, uma ternura que nos faz sentir protegidos ao lê-lo apesar da crueza dos eventos. Uma ternura que terá que ver com a nostalgia que todos sentimos dos "bons-tempos" da infância? Talvez...
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