O Pecado de João Agonia | Irmã Natividade by Bernardo Santareno
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João Agonia regressa da tropa, em Lisboa, para a casa dos pais na aldeia serrana onde todos o amam, numa noite de temporal, com os lobos a rondar. Vem homem feito, mas amargurado e tristonho, até que reencontra Toino Giesta, o filho dos vizinhos, agora um belo rapagão de 16 anos, por quem se apaixona. Mas tudo se precipita tragicamente quando chega Manuel Lamas, um camarada da tropa, que revela que João esteve preso em Lisboa...
Custa a acreditar que em meados do século XX ainda se pensasse e agisse assim em Portugal. Aliás, custaria a acreditar que episódios terríveis como este pudessem sequer acontecer se não nos chegassem periodicamente notícias de casos de honra resolvidos por lapidação ou derramamento de sangue em países do médio-oriente.
Santareno consegue, num texto de grande dramatismo e emoção, deixar uma mensagem expressiva de condenação à homofobia e de enaltecimento do amor, o amor de mãe, mas também o amor impossível de João por Toino: "JOÃO (desesperado.) Ouve cá, Toino, responde-me com o teu coração nas mãos: Um homem - o maior, o mais valente! - é capaz de subir lá acima, ao alto da Rocha Grande, e obrigar o vento norte a virar sul? Ou pode chegar ali, à beira do rio, e mandar as águas correrem ao contrário?!... Pode, Toino, diz lá?! Alguém pode fazer com que uma árvore cresça pró fundo da terra, em vez de subir pró ar?!... Quem, Toino, quem é capaz de fazer isso?!!..."
Irmã Natividade é um pequeno texto dramático, também muito belo, sobre a agitação da vida de um convento provocada pelas visões místicas e sensuais de uma freira jovem, muito ao jeito de Teresa de Ávila. O texto seria depois desenvolvido por Santareno para dar origem a "A Excomungada".
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